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Conflitos na pós-pandemia: um tema em alta na Educação

Uma das queixas mais intensas de educadores no período de pós-pandemia são os frequentes conflitos enfrentados dentro e fora de sala de aula. Por que estamos reclamando tanto de conflitos os mesmos sempre existiram e fazem parte de qualquer mudança, como por exemplo   modificações em processos de trabalho, inclusão de novas tecnologias, troca de companheiros de equipes?  

Existem vários fatores internos e ambientais que podem aumentar a frequência de conflitos, e muitos se agravaram durante a pandemia. Vamos refletir sobre isso? O objetivo não é fornecer receitas mágicas para evitar conflitos mas sim apresentar conteúdos que possam nos ajudar a entender melhor os conflitos como processos que podem ser gerenciados.

O que significa conflito?

Fiorelli(2008) cita em seu livro Mediação e Solução de Conflitos – Teoria e Prática, um conceito de conflito no campo da Mediação:

“Um processo interacional que se dá entre duas ou mais partes, em que predominam relações antagônicas nas quais as pessoas intervêm como seres totais, com suas ações, pensamentos, afetos e discursos. Esse processo pode ou não ser agressivo, mas sempre se caracteriza por ser um processo co-construído pelas partes e que pode ser conduzido por elas ou por um terceiro.” 

Repare que, por ser considerado um processo, o conflito requer diversas interações entre as partes, e vai evoluindo, crescendo e se desenvolvendo de maneira saudável ou não. 

Existem pontos positivos e negativos dos conflitos que precisam ser considerados. Conflitos trazem inovações, crescimento pessoal e de grupos, criatividade e motivação quando bem gerenciados. Se o gerenciamento for indevido, podem ocorrer rupturas, violência oral e até mesmo física, desgastes e outras perdas para as partes envolvidas. 

Para pensarmos em como gerenciar melhor os conflitos, precisamos primeiro saber o que pode estar envolvido em sua geração.  

O que gera conflitos?

Fiorelli (2008) cita diversos fatores, entre os quais destaco aqui:

1. Esquemas rígidos de pensamentos: nossos modelos mentais (MINDSET) podem nos fazer ter maior ou menor capacidade de enxergar qualquer solução diferente daquela que imaginamos para determinadas situações vivenciadas. Quanto menor for esta capacidade, mais rígido é o nosso esquema de pensamento (MINDSET FIXO). Pessoas fanáticas possuem o esquema extremo de pensamento rígido pois, ao serem contestadas, consideram isso como sendo uma provocação insuportável, gerando muitas vezes atos de violência. Pessoas preconceituosas também possuem esquema de pensamentos rígidos, não conseguindo conviver com determinadas situações e comportamentos sem sentirem raiva, repulsa ou revolta. 

2. Pensamentos automáticos: SE….ENTÃO…Por exemplo: “SE  o aluno foi mal na prova, ENTÃO ele certamente não estudou!” Repare que, neste exemplo, deixamos muitas vezes de pesquisar o que exatamente afetou o rendimento do aluno, rotulando o mesmo de preguiçoso, podendo causar um conflito com aqueles alunos que se esforçam mas não conseguem render.

3. Crenças inadequadas: “Estudantes são sempre assim….querem passar sem estudar!”, “Sem o medo de punição, os empregados não cumprem suas obrigações!”. Repare que muitas crenças inadequadas como essas se originam do senso comum, não sendo baseadas em fatos ou dados reais. 

Existe relação direta entre esses três fatores: uma pessoa desenvolve uma crença inadequada – o pensamento torna-se crônico originando um esquema rígido de pensamento – o esquema rígido gera pensamentos automáticos – os pensamentos automáticos reforçam a crença inadequada e assim sucessivamente. 

Além destes três fatores acima citados, vale destacar causas acessórias funcionais muito comuns em ambientes educacionais: 

1. Deficiências de comunicação: falas agressivas, desrespeitosas, humilhantes. Falta ou excesso de assertividade. 

2. Fronteiras mal estabelecidas entre áreas/cargos: as funções e os campos de atuação não estão bem explicitados, gerando ações propositais ou não, que se sobrepõem a outras, bem como cobranças indevidas e injustas. 

3. Equívocos no desempenho de papéis / funções: aquele coordenador que não coordena deixando sua equipe sem orientações necessárias, o professor que assume papel de amigo e deixa de cumprir sua função de orientador, a família que negligencia sua responsabilidade em participar da educação do aluno. 

A partir do que foi exposto, e deixando de considerara neste momento outros fatores que geram os conflitos, podemos ver que existem alguns pontos a serem destacados como a base do gerenciamento de conflitos. Vamos a eles!

 

Como podemos gerenciar os conflitos?

  1. Investir em recursos de COMUNICAÇÃO. A Programação Neurolinguística(PNL), a Escuta Ativa e a Comunicação não violente (CNV)são campos que podem fornecer recursos que potencializarão a Comunicação. 
  2. Aprimorar o AUTOCONHECIMENTO para identificar com maior clareza nossos próprios esquemas rígidos de pensamentos, pensamentos automáticos e crenças inadequadas, buscando formas de reduzir a influência destes fatores ao se deparar com situações que possam gerar conflitos. 
  3. Procurar reduzir a ansiedade e outros sentimentos que atrapalhem a sua capacidade de lidar com conflitos. Exercícios físicos, terapias, conhecimentos de recursos de gestão emocional e rodas de conversas com colegas podem ajudar neste processo.
  4. Participar de espaços de reflexões fora do seu ambiente de trabalho, para interagir com profissionais de outras áreas em ambientes neutros, com outras vivências e conhecimentos, procurando sempre trocar experiências. 

Referência

FIORELI, José Osmir. Mediação e solução de conflitos : teoria e prática / José Osmir Fiorelli, Maria Rosa Fiorelli, Marcos Julio Olivé Malhadas Junior. – São Paulo:Atlas, 2008. 

Explora-se essa questão segundo uma visão sistêmica, sempre pautada pela cuidadosa aderência à prática, por meio de referências a situações reais que ilustram os desenvolvimentos teóricos.

 

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Patrícia Narvaes

Atuou como professora e orientadora nos projetos de inclusão de tecnologias da comunicação na área da educação pela Escola do Futuro da USP. É praticante de Comunicação Não-Violenta (CNV) desde 2013, onde descobriu o poder de uma escuta profunda e como isso pode afetar a comunicação e melhorar as relações humanas, promovendo conexão e acolhimento. Em 2020, conheceu o Thinking Environment ou “Ambiente para Pensar”, abordagem criada pela Nancy Kline, que permite criar um ambiente de escuta apreciativo, levando as pessoas a removerem bloqueios e praticarem o pensamento independente.
Hoje, Patrícia é Facilitadora de Reuniões e Coach em Thinking Environment, certificada pela Time To Think, além de ser uma das organizadoras do projeto Escuta Viva, onde oferece práticas de escuta, cursos, palestras e atendimentos focados na comunicação e nas relações